sexta-feira, 18 de março de 2022

ESSE CORPO MORTAL 2/2 - Julia

🔶 OS PERSONAGENS: Na hora de construir os personagens a gente pode atribuir poderes. Pra cada poder, o Moderador coloca um "porém". Eu decidi que meu personagem seria um andróide. Ele tinha sido um policial, morto em ação, e suas células cerebrais foram usadas pela Corporação para construir um andróide super-policial perfeito. Ele em princípio não tinha mais emoções, e mantinha algumas memórias da sua vida orgânica (sim, ele era totalmente um Robocop misturado com a Major (e eu adoro RPG porque eu posso misturar qualquer coisa sem problema de copyrights)). Ele era negro, tinha cabelo azul (eu estipulei que cabelo azul era totalmente normal nesse futuro) e se chamava Julia (também estipulei que um homem se chamar Julia não era incomum). A única coisa estranha nele são os sulcos lineares e geométricos que tinha na pele, deixando claro que ele era artificial.

Mas, até aí, mesmo sendo andróide, ele não tinha nenhum poder. Eu decidi por força & resistência e o moderador inseriu um "porém": ele tem que esperar recarregar uma cena antes de usar de novo. Durante a história eu gastei outros dos papeizinhos e adicionei um segundo poder: visão infravermelha, e o narrador colocou seu "porém": ele não pode fazer outra ação enquanto usa a infravisão.

 
🔶 O JOGO: A experiênciado jogo foi uma DELÍCIA. Tenho poucas memórias objetivas e mais memórias sensoriais e emocionais. O medo constante de ser descoberto pela Corporação, a sensação de o pressão e impotência. Lembro de entrar na delegacia pra salvar um rebelde que tinha sido preso injustamente, mas ele pediu pra eu matar ele, porque o objetivo dele era ser um mártir. Do CEO da Corporação dizendo que confiava em mim (nessa altura eu já estava 110% do lado dos rebeldes). De entrar em apartamentos quase desmoronando onde morava a população pobre. De pessoas que escolhiam alterar o corpo para se parecerem mais inumanas. De ter que burlar as câmeras de vigilância pra poder sair da Cidade e ir pras Ruínas das Missões, o único lugar que a Corporação não podia nos monitorar. De receber ajuda relutante dos párias, de descobrir que eles ainda mantinham algumas tradições indígenas. De fugir dos pelotões da Corporação entre as ruínas na escuridão da noite. De bolar um plano pra hackear a IA da Corporação.
 
O final foi... um tanto decepcionante. E preciso dizer que foi por culpa de nós jogadores mesmo, não do Moderador. A gente podia ter ousado, arriscado mais e criado uma cena onde iríamos sei lá invadir, hackear ou explodir em grande estilo a sede da Corporação. Ou... morrer, se as jogadas com os papeizinhos dessem errado (a gente tava com a faca e o queijo na mão, esse jogo especificamente fornece ferramentas pra gente moldar a narrativa). Mas nós agimos com muito medo e a cena final ficou sem graça (tão sem graça que nem lembro). Lembra que eu falei aqui de uma crônica onde a gente perdeu e ainda assim foi memorável? Pois é, agora esse é um exemplo de uma conclusão não-memorável.
 
Então... a Corporação não foi atingida e continuou explorando as pessoas. O Moderador nos pediu então um epílogo pra cada um dos nosso personagens e eu escolhi que Julia foi se tornando cada vez mais alheio ao mundo, até que finalmente se desconectou de seu corpo, se tornando uma IA. Mergulhou na Rede e de lá observava a humanidade, sem interagir.


Imagem 1:
eu também não sei
Imagem 2:
cena de Ghost in the Shell (1995), dir Mamoru Oshii

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